Inimigo oculto
O colesterol alto não é um problema exclusivo de adultos: cada vez mais crianças e adolescentes vêm apresentando níveis de colesterol elevado. Em alguns casos, o problema é de origem genética, herdado dos pais. Mas hábitos alimentares errados, além do sedentarismo precoce, também estão por trás dessa epidemia de excesso de gordura no sangue – que representa um risco exponencial para doenças cardiovasculares na idade adulta, causando entupimento das artérias, sobretudo as coronárias. Por isso, crianças a partir dos cinco anos de idade, ou mesmo antes, em algumas condições, devem ter checado seu perfil lipídico– ou seja, o nível de gorduras no sangue. Em determinados casos, a criança precisa de estatinas – os medicamentos capazes de reduzir a taxa de colesterol. O alerta é da Dra. Maria Cristina Izar, Professora Afiliada e Livre Docente da Disciplina de Cardiologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo e uma das maiores autoridades do país em Hipercolesterolemia Familiar.
Submeter crianças pequenas a exames de sangue para avaliar seu nível do colesterol não era uma prática usal há dez anos. Hoje, baseado em estatísticas nacionais e internacionais, os médicos acreditam que cerca de 30% das crianças brasileiras tenham esse problema. A alimentação inadequada, a falta de atividade física e a genética estão por trás desse desequilíbrio. Um estudo realizado em Pernambuco com 414 crianças mostrou que 30% delas tinham o diagnóstico – e apenas 4% estavam acima do peso. A genética, portanto, é um fator de grande peso. Por isso, é fundamental a identificação de uma criança com colesterol elevado – e saber se essa alteração tem uma base genética, pois o diagnóstico precoce modifica o desenvolvimento da doença e suas consequências. Como explica a Dra. Maria Cristina, alterações do colesterol podem ser devidas à alimentação inadequada (causa ambiental), a alterações em vários genes (poligênica) e menos frequentemente, a defeitos genéticos na captação de colesterol pelas células, chamado de hipercolesterolemia familiar. O tratamento envolve mudanças no estilo de vida e frequentemente requer medicamentos, como os fármacos que bloqueiam a produção de colesterol pelo fígado. Conhecidas como estatinas, estes medicamentos são bastante eficientes na redução do LDL-colesterol, o chamado “colesterol ruim”. Entre as estatinas, a rosuvastatina é bastante empregada entre crianças e adolescentes, por ser considerada bastante segura para uso nessas faixas etárias. Estudos com população pediátrica mostram reduções de 50% no LDL-colesterol com o uso da rosuvastatina. No entanto, quando se diagnostica hipercolesterolemia familiar, muitas vezes é necessário associar-se dois ou três medicamentos para se obter controle ideal do LDL-colesterol.
A hipercolesterolemia familiar é um problema de saúde mundial, que atinge cerca de 12 milhões de pessoas -- das quais estima-se que 200 mil irão morrer de doença arterial coronariana (DAC) prematura. Se não houver tratamento, a maioria desses indivíduos terá DAC aos 60 anos, sendo a taxa de mortalidade de 50% nos homens e de 15% nas mulheres. Por ser a doença herdada de modo dominante, de cada duas pessoas da família de um indivíduo afetado, 50% pode apresentar a doença. A Escola Paulista de Medicina e outros centros de pesquisa em nosso país têm se empenhado na busca ativa de novos casos de hipercolesterolemia familiar.
Mudança de hábito
Fatores genéticos à parte, melhorar a alimentação da criança é a primeira fase do tratamento – e também da prevenção da doença. Os alimentos que aumentam o colesterol precisaram ser substituídos. Essa mudança, associada à prática de exercícios, ajuda a reduzir o colesterol ruim. Saem carnes vermelhas gordurosas, derivados de leite (em especial os integrais), bolacha recheada, sorvete de massa, frituras e embutidos. Entram azeite de oliva, cereais, leite desnatado, frutas, verduras e legumes. O mesmo deve acontecer na escola. Em alguns colégios, as cantinas já deixaram de vender alimentos fritos, por exemplo.
Em outros, uma nutricionista prepara refeições especiais para os alunos com colesterol alterado a partir do cardápio do dia. A comida não é muito diferente da servida para os outros alunos, para a criança não ficar desestimulada a fazer a dieta.
Sedentarismo precoce
Outro diagnóstico comum na infância é o HDL, o chamado colesterol bom, aquele que protege as coronárias, abaixo do nível saudável. O HDL recolhe do sangue as sobras de colesterol, evitando que seja depositado nas artérias. O HDL baixo ocorre sobretudo porque as crianças hoje são mais sedentárias. Uma atividade física todos os dias, por pelo menos 50 minutos, é aliado do HDL. Resumindo: menos computador, mais vida ao ar livre.
De pai para filho
O fator genético é tão importante no caso do colesterol que a recomendação médica para pais com colesterol alto antes dos 40 anos de idade é submeter seus filhos a um primeiro check-up já aos dois anos. Além da dieta e do aumento da prática de atividades físicas, em alguns casos, quando a alteração é grave e não foi possível controlá-la de outro jeito, é necessário mesmo o uso de medicamentos. Outro fator que influencia na doença é a obesidade. No Brasil, 10% das crianças com menos de cinco anos estão acima do peso. Elas têm mais chances de desenvolver colesterol alto.
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A Hipercolesterolemia Familiar é uma doença genética que causa níveis muito aumentados de LDL colesterol no sangue de seus portadores. Por causa disso, estas pessoas estão sob um risco muito aumentado de infarto do coração. Se você tiver colesterol LDL acima de 210 mg/dl e membros em sua família com infarto em idade inferior a 45 anos, entre em contato com o InCor pelo e-mail hipercolbrasil@incor.usp.br enviando como anexo uma cópia ou foto do seu exame de colesterol junto com um número de contato telefônico. A Equipe do Hipercol Brasil entrará em contato com você!
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Sobre a autora: Dra. Maria Cristina Izar possui graduação em Medicina pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (1981) e Doutorado em Medicina (Cardiologia) pela Universidade Federal de São Paulo (2001). Possui Título de Especialista em Cardiologia pelo MEC e AMB, além de ter curso de Administração Hospitalar. Foi Research Fellow do Mount Sinai School of Medicine, da New York University de 1995-1996. Atualmente é Livre Docente em Cardiologia pela Universidade Federal de São Paulo (2010), Professor Afiliado da Disciplina de Cardiologia da Universidade Federal de São Paulo e Pesquisador Nível 2 do CNPq. Coordena o Laboratório de Biologia Molecular do Setor de Lipides, Aterosclerose e Biologia Vascular da UNIFESP.
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